quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Um dia de folga...Folga?

Folga no meio da semana é tudo o que a maioria das pessoas deseja ter. Uma pausa para respirar, relaxar, descansar, recarregar as "baterias". Como trabalho em uma UTI, em uma escala fixa, geralmente eu tenho essa "folga" no meio da semana. Só que normalmente esses dias de pausa para mim não têm tido nada de "folgado" e sim muito "afogado" de tarefas que se acumularam ao longo dos outros dias e semanas nos quais estou trabalhando.

Ah, quantos planos faço para esse dia no pensamento várias vezes!! Tomar um banho de mar, caminhar na areia, malhar, acordar tarde, dormir depois do almoço, ir ao cinema, fazer as unhas, cuidar do cabelo, colocar a leitura dos livros em dia, escrever meu livro, visitar amigas, tomar um sorvete, etc, etc, etc.

Sempre termino esses dias de folga completamente esgotada, exaurida, acabada!!! Se continuar lendo, vai entender o porquê disso...Pois bem, prepare-se para uma descrição "resumida" do meu day off de hoje:

01h00min da manhã de hoje: Horário que fui dormir. Geralmente sou a última a dormir na casa, fazendo coisas básicas como conferir a bolsa da escola dos filhos, colocar o dinheiro para o lanche do dia seguinte nos seus respectivos estojos, olhar comunicados da agenda, limpar e tonificar a pele, fechar as torneiras que alguém deixou pingando, terminar de fechar a casa, etc.

2h00min da manhã de hoje: Acordo com um choramingo do meu filho de 1 ano de idade. Levanto-me coloco a chupeta, observo por uns dois minutos se ele volta a dormir. Ele dorme e eu volto ao meu sono.

02h45min da manhã de hoje: Novamente meu filho de um aninho choraminga, funga. Repito o procedimento anterior e caio na cama de novo.
03h16min da manhã de hoje: acordo com a sensação de que "perdi a hora", puxo o celular que dorme no baú da minha cama, a fim de olhar a hora. Confiro que horas são, vejo que ainda não é hora de acordar e volto a dormir.

04h00min da manhã de hoje: O despertador do celular do meu marido grita desesperado ao meu lado, chamando para levantar. Ele não se mexe. Eu o "cutuco" para levantar e continuo deitada por mais 5 minutinhos, metade de mim querendo dormir e metade de mim me forçando a levantar. Meu marido dá um pulo da cama depois do segundo "balanço" mais parecido com um "tranco" para forçá-lo a levantar.
Escuto um som conhecido... O celular esganiçado e gasguito do meu marido acordou mais alguém na casa... Enquanto o choramingo não vira ainda choro, levanto num salto e corro para o banheiro para fazer a higienização básica, um banho "de gato" ou "à francesa". Enquanto isso, o choramingo, vira choro e meu marido já debaixo do chuveiro, grita que o menino está chorando e porque que não vou atendê-lo? Demoro algo em torno de 2 minutos no meu "banho" e higienização básica, corro para a cozinha, faço o leite do meu bebê às pressas, dou uma passada na porta do quarto da minha ajudante, que chegou há apenas três dias atrás, a fim de acordá-la, pego o bebê no colo e começo a dar o seu leitinho da manhã e espero que ela venha continuar a dar a mamadeira ao meu filho. Depois de uns 7 minutos ela aparece e eu transfiro o bebê para o colo dela. O mesmo começa a chorar e recusa-se a tomar o leite com ela, gritando de birra. Retomo a tarefa, enquanto ela faz um café. Meu marido já pronto, bem vestido e cheiroso confere os últimos detalhes para a sua viagem e começa a "carregar" o carro com sua mala e outros apetrechos do seu trabalho. O bebê termina o leite e eu corro para pentear o cabelo, enquanto o bebê ainda não adaptado à minha nova ajudante, literalmente berra, reclamando que o deixei de lado. Em apenas um segundo de reflexão, decido que terei que levá-lo comigo e não vou poder deixá-lo desta maneira. Pego duas fraldas, uma chupeta, uma camisa, calça, meias, sapatinhos e "enfio" com urgência na bolsa dele. Saio correndo feito uma louca com o bebê de um lado e a bolsa com as coisas mal colocadas do outro, em direção ao carro. Com o carro em movimento, troco a roupa do bebê, calço seus sapatinhos. Experimento colocar ele na sua cadeirinha nova do carro e observo a sua reação. Ele parece gostar da mesma e fica quietinho. Bato palminhas e reforço sua atitude: "muito bem"! Pois o mesmo só queria andar em pé no colo. Meu marido dirige apressado em direção ao aeroporto, aonde precisa chegar logo para pegar o seu vôo, marcado para as 05:25min da manhã.

"Voamos" para o aeroporto. Vou todo o percurso com a impressão de que apenas um lado do cérebro estava funcionando enquanto o outro continuava dormindo. Rs! Ai que sono! Lá chegando, enquanto meu marido pega a mala, joga a chave do carro do meu lado e sai correndo para despachar a mala, eu aproveito essa "pausa" para trocar a fralda do bebê usada por toda a noite. Ao terminar, fecho o carro e vou à procura do meu marido e em busca de um café para ver se o sono passa e me dá condições de dirigir de volta para casa. Acho estranho a falta de movimentação, poucas pessoas circulando, apenas seis pessoas "amontoadas" no balcão do check in, sem fila, parecendo nervosas e agitadas, entre elas o meu marido. Aproximo-me e demoro dois segundos para entender o que estava acontecendo. O lado do cérebro que estava dormindo acorda e o sono passa por completo. Esqueço do café. Sinto os sinais da adrenalina correndo nas minhas veias despertando o restante do meu corpo que queria dormir. Chegamos meia hora antes do horário previsto para a saída do vôo e a captação das malas estava encerrada. O funcionário da companhia aérea apenas oferecia a possibilidade de embarque "sem mala". Que situação surreal! Penso comigo mesma, será que ainda estou na minha cama sonhando? Bate-bocas para lá, nervosismo para cá, tapas raivosas no balcão, alguém chama a polícia que se aproxima e manda acabar com o tumulto e processarem a companhia se acharem que devem, mas não tumultuarem o ambiente. E eu, boquiaberta com todo o caos daquela situação inesperada, visto que o embarque ainda não tinha sido iniciado. Havia ainda seis pessoas para fazerem check in e os funcionários da companhia aérea estavam se recusando a receber as malas. Destes, duas pessoas saíram de fininho do meio do tumulto, dirigiram-se para a sala de embarque, com o embarque quase finalizado e “fazendo-se de doidos”, embarcaram no avião com mala sem etiqueta e sem o padrão de bordo. Cerca de 30 minutos depois, ninguém resolve nada e eu escuto ao longe o som característico do avião decolando. Vôo perdido. Os que ficaram remarcaram suas passagens e pagaram a tarifa exigida de R$ 160,00. Faltava meu marido decidir o que fazer. Tentamos então com a funcionária da companhia, modificar o início do vôo para Recife (cidade vizinha à minha). A funcionária pedia o pagamento da taxa de remarcação de R$160,00 mais R$ 50,00 de embarque. Depois de mais uns minutos de reflexão e conversa, decidimos que eu iria agora em direção à rodoviária, pois o meu marido decide "ir atrás do avião" na cidade vizinha e lá fazer o check in e embarcar na conexão do seu vôo perdido, que seria feita apenas às 11h20min da manhã. Pois tudo continuava ilógico: taxas de embarque duplas e taxa de “remarcação” do mesmo vôo já comprado.

Corremos, agora para a rodoviária, a fim de pegar o ônibus que sairia às 06h30min. Chegamos lá às 06h25min. Mais correria, e dessa vez deu certo, pois não havia fila para comprar a passagem. Meu marido me dá um beijo de "selinho" e sai correndo em direção ao guichê de compras de passagens. Meu bebê, alheio a tudo que acontece dorme com cara de anjo na sua cadeirinha. Penso comigo mesma, menos mau...pelo menos alguém dorme e descansa! Reprogramo agora o que fazer dalí em diante, pensando no que falta fazer.

Totalmente desperta, sinto-me elétrica e eletrizada! Penso se a minha nova ajudante conseguiu acordar meus dois filhos mais velhos de 11 e 7 anos, aprontá-los, alimentá-los e despachá-los no ônibus da escola, que passa às seis horas da manhã, à tempo. Dirijo até a minha casa, agora mais devagar, com o pensamento a mil por hora. Chego na minha casa às 07h15min, e minha ajudante vai logo me comunicando que só conseguiu vestir um dos meninos com a farda, que o outro não deixou, e que ambos continuavam dormindo! Olho a cena de mais uma guerra a ser vencida e tenho que decidir em 2 segundos se enfrento a batalha ou recuo em retirada! A aula já tinha começado, eles já estão atrasados, olho para os seus rostinhos dormindo como anjinhos, fico com pena de acordá-los, mas decido colocar a mãe general em cena com suas ordens: Acorda! Levanta! Sentido! Veste a roupa! Escova os dentes! Lava o rosto! Coloca o perfume! Penteia o cabelo! Venha comer! Rápido! Já está atrasado! Marcha soldado! Se não marchar direito vai preso no quartel! E entra em ação a "minhoca acordadora" inventada por mim com o dedo indicador fazendo movimentos sinuosos, a passear pelos locais de cócegas a fim de acordá-los. Dez minutos depois de ouvir muitos: "pára"! Finalmente acordam, se levantam. Demoram 5 minutos para decidirem o que desejam comer no café da manhã. O mais velho sonolento diz querer cereal de chocolate. O outro também. Apressada vou até à cozinha e coloco o cereal e ofereço aos dois uma porção.O mais velho diz que não tinha pedido isso e que queria ovo frito. Ai que raiva! Tenho vontade de deixá-lo ir para a escola sem comer! Peço para a minha ajudante fazer um ovo frito rápido. O relógio não pára: 7h35min. Terminados os comes e bebes, corro com eles até a escola e eles chegam lá às 7:45. Ufa!!! O dia mal começou e já me sinto tão cansada!!

Quando estava procurando uma vaga para estacionar, lembro-me de repente que só tinha R$50,00 na bolsa e que precisava de dinheiro trocado a fim de dar para cada um a sua provisão para o lanche do dia. Vou até a cantina do colégio e não há ninguém no momento para me atender. Vou até a secretaria da escola, peço para "trocarem" o meu dinheiro no setor que recebe os pagamentos do colégio. Nada feito ainda, pois a funcionária só tinha duas notas de R$20,00 e uma de R$ 10,00. Eu pergunto se posso pagar amanhã e decidem anunciar no som do colégio que a funcionária da cantina, deveria comparecer à cantina. Rs. De volta à cantina, deixo pago os dois lanches deste dia. Vejo o motorista do ônibus escolar e vou explicar o que aconteceu para os meus dois filhos perderem o ônibus hoje.

Volto para casa apressada (só para variar), pois uma empresa de internet ficou de vir à minha casa, às 08h00min instalar os cabos necessários para a instalação de um serviço de 5 megas hoje. Já em casa, tomo um café, como um ovo frito, pão assado, suco. Acesso a internet e vou à página da companhia aérea fazer uma reclamação formal, sobre tudo o que tinha acontecido. Faço ligações. Ligo para o meu marido, a fim de saber se já tinha chegado no aeroporto do Recife. Ele diz que estava ainda preso no trânsito. A viagem de duas horas, tinha se transformado em três horas. Fico pensando se ele vai chegar á tempo de fazer o novo check in ou vai pegar o ônibus de volta! Fico pensando se tudo isso não aconteceu para que ele não fosse nesta viagem. Faço uma prece a Deus para que o guarde, proteja, abençoe e livre de acidentes e ainda faça dar certo o check in “de doido”.

Olho o relógio. 09h30min e nada do serviço chegar. Ligo para lá. Atendem e dizem que por causa de "problemas técnicos" não será possível virem hoje. Meio zangada por este tempo perdido esperando, marco para o dia seguinte. Passo para a tarefa seguinte: achar o cartão de vacinação do meu bebê, perdido no meio da minha selva de livros, apostilas e papéis, há mais de um mês. "Desmonto" pastas, prateleiras, gavetas a fim de encontrar esse bendito cartão de vacinação que estava literalmente sumido. Minha outra ajudante, depois de uns 15 minutos de procura conjunta, terminou achando o que ela mesma tinha "escondido" na sua “arrumação”: o cartão de vacina.

São 10h30min. Ligo pela quarta vez nesta manhã para meu marido, a fim de saber se ele tinha conseguido fazer o check in em Recife. Ele me pede para entrar na internet, abrir o e-mail e passar para ele o código localizador do check in feito pela net um dia antes. Eu faço o que ele me pede. Minutos depois ele liga novamente, dizendo ter dado tudo certo e ter conseguido finalmente despachar a mala e fazer o check in normalmente, sem pagar nenhuma taxa e sem dizer que tinha perdido um trecho do vôo. Avalio que não vai dar tempo de levar meu filho para a vacinação ainda pela manhã, porque terei que almoçar e sair correndo para uma aula de Percepção Musical na Universidade Federal, aonde “inventei” de “achar mais uma sarna para me coçar” e entrar como graduada numa vaga para mais um curso superior de graduação: o de Bacharelado em Canto. Sentindo-me com um lado do cérebro meio que anestesiado, com o raciocínio lento por causa do stress misturado ao sono, volto à internet para consultar meus e-mails, entrar rapidamente no “MSN”, encontro um amigo on-line e conto-lhe resumidamente tudo o que tinha acontecido até então no meu dia e compartilho outras “raivas” minhas. Cuido da minha “Mini fazenda” (aplicativo do Orkut). Meia hora passa rápido. Enquanto isso, meu filho de um aninho circula de lá para cá à minha volta, “remexendo” em tudo, espalhando papéis, abrindo gavetas, conversando comigo com sua linguagem tonal e não verbal. Com um pé seguro uma gaveta que ele tenta abrir da mesa do computador, com as mãos tento digitar um e-mail e em todo o tempo fico “monitoro” em que local do ambiente meu filho se encontra, o que está pegando, o que está fazendo. Levanto da cadeira umas três vezes para “salvar a sua vida”, do “objeto ou dejeto” minúsculo que ele cata do chão para levar à boca, do livro pesado que puxa em sua direção da estante, da cadeira que ele escala e quase cai no chão. Rs! Ainda bem que Deus criou as mulheres para serem multitarefas! Consigo terminar os e-mails.

11h30min. Os filhos mais velhos chegam da escola da sua maneira estrondosa e nada silenciosa habitual!Suas vozes e gritos felizes são uma música para os meus ouvidos de mãe. Gritando e correndo em direção à casa. Ao invés de parecerem cansados da aula, chegam com as baterias carregadas com toda a energia do mundo! A sua alegria é contagiante. Saio do computador para recebê-los com um abraço, perguntar sobre a aula, ouvir as novidades, dar as ordens de sempre, para vê-los nem sempre imediatamente executá-las: tire a farda, tome um banho e vamos almoçar.

12h00min: almoço num clima “tumultuado” de sempre...três pratos a fazer: carnes a cortar, enquanto travo uma batalha com um bebê sentado no meu colo, puxando tudo que estiver ao seu alcance: pratos, talheres, copos. Outras batalhas adicionais: conseguir fazê-los comer feijão, comer mais uns talheres, tomar suco, etc. Faço meu prato por último, a comida já esfriando. Entrego o bebê para minha ajudante dar o seu almoço. Sem apetite, como algumas colheradas. São 12h50min. Levanto-me e saio correndo para a minha aula das 13h00min, já sabendo que mais uma vez chegarei atrasada. Chego na universidade às 13h25min. O professor reclama (mais uma vez) do meu atraso. A aula consiste em solfejos rítmicos, melódicos seguidos de ditados rítmicos e melódicos. Traduzindo para quem não sabe o que é isso: Ler partituras com palmas, sons, cantar afinado as notas escritas numa partitura. Em seguida, “perceber” que notas exatas e ritmo exato estão sendo tocadas pelo professor ao piano e escrever numa partitura enquanto ele checa se estão corretas ou não. Imagine depois de uma noite mal dormida, stress, corre-corre, conseguir “decifrar” e anotar notas, melodia e ritmos corretos de uma melodia desconhecida ou não, tocada ao piano? Sinto como se o resto da minha massa cinzenta fosse dar um “tilt” a qualquer momento. Depois de tanto corre-corre e stress, sou a mais lenta da sala e a última a terminar o exercício e “perceber” o que tinha que ser percebido.

14h45min: a aula termina. Vôo até a minha casa a fim de buscar toda a minha tropa para as tarefas planejadas para o restante deste dia. Chego em casa e, apesar do meu aviso antes de sair, para que estivessem todos preparados e em prontidão me esperando para sair, ninguém está pronto! Uma das minhas ajudantes tinha saído para “carregar o celular” no posto a três quarteirões da minha casa, filhos ainda não tinham tomado banho e se vestido. Sinto nova carga de adrenalina correr nas minhas veias com urgência, pois a ficha para buscar o remédio injetável que preciso pegar mensalmente para o meu filho, fornecido pelo SUS, só é fornecida para quem chega até as 16h00min e levo cerca de 30 minutos para chegar até lá. Alguns gritos para apressar meus filhos, banho para cá, roupa para cá, lanche de última hora, e nada da funcionária voltar. Às 15h30min, fechando janelas, portas em 3 segundos e conseguindo “enfiar” todos no carro, saio voando até o posto de gasolina em busca da minha funcionária que não atendeu ao telefone. Encontro-a conversando e rindo normalmente, como se estivesse num dia de folga. Mais um pouquinho de adrenalina nas veias. Ela me vê e corre em direção ao carro. Nessas horas, penso que um carro não é mais suficiente para atender às minhas necessidades diárias e elaboro mentalmente a construção do que seria o ideal para mim: um jatinho particular em forma de helicóptero! Dirijo feito uma louca em direção ao centro da minha cidade, reclamando dos motoristas “tartarugas” à minha frente. Até parece um complô para me atrasar ainda mais.

16h10min, paro o carro em frente ao órgão do governo, deixo todo mundo no carro e saio correndo literalmente até a porta a fim de tentar pegar ainda uma senha. Encontro ainda aberta a porta, que se fecha imediatamente após a minha passagem, como se estivessem todos apenas esperando-me chegar. Peço uma ficha de atendimento. Recebo a mesma e sigo em direção ao local apropriado. Agradeço mentalmente a Deus por ter chegado a tempo. A sala quase vazia, final de expediente, logo sou chamada. O funcionário me avisa que o medicamento não seria fornecido porque a médica teria solicitado atualização de exames e que a dose que tinha no momento era diferente da solicitada pela médica. Pergunto que exames e ele não sabe informar. Mais adrenalina. Peço para falar com o farmacêutico que pode autorizar a liberação de medicamentos. Depois de uns 5 minutos o farmacêutico vem falar comigo. Leva mais 5 minutos para localizarem o meu processo, mais 5 minutos para ler e verificar exames. Depois de conversarmos, ele conclui que irá liberar a medicação até porque não sabia que exames estavam sendo solicitados e me daria um mês para atualizar tudo. Agradeço aliviada. Nesse meio tempo, o meu filho mais velho tinha entrado e pedido a chave do meu carro. Eu dei, pensando que ele iria fechar e voltar com todo o mundo. Ele não voltou. Vou em direção ao carro a fim de buscar o isopor para acomodar a medicação que seria recebida. Encontro a seguinte cena: meu filho de 11 anos no banco do motorista, com o carro ligado, o de 7 anos ao lado dele, ar condicionado ligado, som alto, minha funcionária fora do carro com o bebê nos braços com cara de “não sei o que fazer” e a porta do órgão fechada para entrar. Meu Deus! Que completo caos às vezes parece a minha vida de mãe! Ela diz que muitas pessoas passaram “criticando” o fato de uma criança estar no banco do motorista como carro ligado. Reclamo com o meu filho e digo-lhe que se eu tivesse deixado o carro em marcha (como normalmente deixo em primeira), que ele poderia ter causado um acidente! Mentalmente culpo o meu marido por ter numa de suas viagens, ensinado ele a ligar o carro dele e o incumbido da tarefa de ligar todos os dias para não “descarregar a bateria” do seu carro. Desde então, de vez em quando ele liga o carro e anda doido para “aprender a dirigir”. Pego o isopor, volto para onde estava, só que desta vez com todo o mundo. Espero concluírem o atendimento e pegar o medicamento. A funcionária pergunta se eu trouxe o gelo. Eu digo que vou comprar na saída. Ela informa que o medicamento só sai se eu tiver gelo e eles não fornecem isso. Eu pergunto então se ela me espera ir comprar e voltar do outro lado da rua. Ela então decide “dar” um pouco do gelo da sua geladeira, juntamente com o medicamento. Mais uma tarefa cumprida.

16h20min, saio correndo de novo, para o ambulatório de um hospital público a 6 quarteirões dali, cujo expediente se encerra às 17h00min, a fim de ver se conseguiria encontrar alguém para dar a vacina atrasada no meu filho de um ano. Chego lá às 16h25min, “enxoto” todo mundo do carro e entro às pressas no ambulatório. Interiormente agitada, agradeço a Deus mais uma vez quando vejo a funcionária ainda no seu setor, pois o meu filho estava com duas vacinas atrasadas. Um reforço da tríplice viral e a anti-pólio, que nas duas campanhas de vacinação, não pôde comparecer por, coincidentemente, estar doente e febril no dia das últimas duas. Ela aplica o reforço de uma e diz que não poderá dar a vacina anti-pólio, que agora só é fornecida na semana subseqüente à campanha, que ela não tem, e etc. Meu filho de um ano berra reclamando da picada da seringa. Vê-lo sentir dor me causa desgosto e parece que isso retira de mim as últimas energias do dia. Meu filho menos chorando, os outros dois rindo e “zombando” do mais novo que chora. Eu a olho calada e cansada, sem saber o que dizer e sem saber o que fazer. Ela me encara calada, dá as costas, abre um isopor e reaparece com a vacina oral, que fornece ao meu bebê. Sem entender nada do que se passou no interior dela e o que fez ela mudar de idéia sem que eu tivesse que falar nada e “brigar” pelos meus direitos, converso com Deus mais uma vez mentalmente, agradecendo-lhe por Ele estar fazendo dar certo o que tinha que ser feito naquele dia. Seria a minha cara de cansada e de miserabilidade (a esta altura do dia) que lhe deu pena e a fez mudar de idéia? Acho que Deus agiu no coração dela e falou por mim. Mais uma tarefa cumprida, mas não a última do meu longo dia “de folga”.

Sentindo-me quase “off”! Vou em direção à casa da minha mãe, descarrego bolsas, remédio (que é levado à geladeira) e pessoas, enquanto levo meu filho de 11 anos para uma consulta com um médico, já que ele chegou da escola reclamando de uma dor intensa no ouvido direito, com a sensação de fraqueza e de que ia ter febre. No caminho decido se o levo para um “pronto-atendimento” de emergência, que levaria de um hospital do seu plano de saúde, que levaria cerca de uma hora para ser atendido, ou se o levo a um otorrino a três quarteirões dalí e tento duas coisas: ver se ele está no momento no consultório e um atendimento sem marcação de consulta. Faço uma oração mental para que Deus me ajude mais uma vez neste dia. Decido levar ao otorrino. Chego no consultório às 17h00min e entrego o cartão do convênio do meu filho à recepcionista da clínica. Ela pergunta o nome e percorre duas listas de pacientes marcados. Olha para mim e pergunta se eu marquei a consulta. Eu digo que não, que ele já era paciente e que tinha vindo para que o médico aspirasse o pus do ouvido (como de outra vez foi necessário). Ela diz que vai demorar. Eu digo que não tem problema, que eu espero. Ela acrescenta o nome dele na lista. Mais uma vez agradeço a Deus por ter conseguido a consulta assim sem marcar, sem planejar, sem saber se o médico estaria.

18h00min, entro no consultório do médico. Encontro um médico de bom humor (o que normalmente é raro), que nos atende gentilmente e faz brincadeiras. Dou risadas e agradeço a Deus por esse pequeno bálsamo de humor no final deste meu dia. Desta vez o médico informa que tem secreção no ouvido que está infeccionado, mas que não seria necessário aspirar. Faz a receita e me entrega.

18h30min, quando estou dirigindo de volta para a casa da minha mãe, lembro-me que os passarinhos dos meus filhos: 2 calopsitas e 7 periquitos, tinham passado o dia sem comer direito, porque a ração havia acabado. Corro até o mercado de um bairro próximo, mais uma vez pedindo a Deus para encontrar a loja ainda aberta. Encontro a loja com o funcionário baixando as portas de sanfona. Dou mais um vôo saltante do carro para o interior da loja e consigo comprar a ração. Sinto-me sem energia, quase em estado de Black out. “Recarrego” o carro de bolsas, medicamento e gente. Meu filho de 7 anos chora e insiste, pedindo para eu ficar mais um pouco para que ele brinque mais com um vizinho da minha mãe. Ouvir meu filho chorar me cansa mais do que está de lá para cá. Sinto que se eu sentar e parar, não vou conseguir mais me levantar para ir embora. Todo o cansaço do dia parece pesar dentro e fora de mim. “Enfio” ele chorando no carro, me despeço apressada dos meus pais e vou em direção à minha casa com o estômago reclamando de fome. No caminho de casa, lembro-me que as fraldas do meu filho de um ano acabaram e eu tinha que ainda comprar no caminho de volta. Paro na lateral de um shopping, deixo todo mundo no carro, trancado por fora e corro até a loja para comprar as fraldas. Procuro a marca que usualmente compro e não a vejo. Consulto preços rapidamente e decido por outra e vou apressada em direção ao caixa. Ainda bem que só tinha uma pessoa na fila antes de mim. Volto ao carro e encontro todos “desmaiados”, dormindo de cansaço, incluindo a minha funcionária. Penso que devo estar recebendo vitamínicos sobrenaturais especiais do céu para agüentar o tranco dos meus dias. Paro na farmácia do quarteirão seguinte para comprar os remédios prescritos para o problema de ouvido do meu filho. Enfim consigo chegar em casa. Coloco todo mundo para jantar. Engulo a minha sopa no tumulto semelhante ao do almoço. Dou medicamentos ao meu filho mais velho, depois de mais uma pequena batalha para fazê-lo tomar. 22h00min, coloco todos na cama. Todos dormem quase instantaneamente e eu continuo acordada, ainda com todos os hormônios do stress em alta, pensando na loucura que foi mais um dos meus “dias de folga”. Ligo para o marido. Ele de outro Estado, cansado, pensa que estive “descansando” no meu dia de folga e que não “faço nada” porque tenho uma ajudante. Aliás, até mesmo nos meus dias de trabalho, ele diz que acha que eu não “faço nada”. Na sua ilusão mental, só quem trabalha e se cansa é ele, enquanto eu vivo “de pernas para cima”. Quem me dera uns dias de férias de tudo e todos, de preferência sozinha, em silêncio, numa ilha deserta, porque estou com saudades de mim e da minha própria companhia! Rs!

Faço uma lista mental do que não deu tempo de fazer hoje e foi postergado para a próxima oportunidade: lavar o carro, trocar o pára-brisa do meu carro que está trincado, verificar o que houve com os pneus novos colocados que estão com um barulho estranho (devem ter vindo deformados de fábrica), localizar a nota fiscal de compra deles. Lembro, com um sentimento de mãe relapsa, a prova do dia seguinte do meu filho de 7 anos que não foi estudada e decido ler algo com ele no dia seguinte, antes dele subir para o ônibus escolar às 6 da manhã.

Vou à internet e começo a digitar na página do meu blog, tudo o que fiz neste dia. As palavras fluem numa facilidade incrível. As mãos digitam rapidamente todos os pensamentos, exatamente como eles vão fluindo à mente, na minha longa retrospectiva do dia. Duas “pescadas” depois de alguns minutos, decido parar e continuar este relato no dia seguinte. Desligo tudo, sentindo-me apenas em "stand by". Sinto minhas pernas pesarem, arrasto-me até o quarto e no caminho me lembro que não tinha tomado um banho “de vergonha” ainda naquele dia. Depois do banho, lembro-me de colocar a ração para os pássaros e aguardo 10 minutos com a luz acesa, enquanto eles saciam a fome. Forço-me a executar esta última tarefa do meu dia, termino toda a higienização pessoal (limpeza e tonificação do rosto) e desmaio na cama às 22h45min, pensando desanimada, que terei que acordar às 05h00min da manhã para aprontar meus filhos para a escola e que vou acordar provavelmente cheia de olheiras e com uma cara horrível.

Sinto uma espécie de alívio por amanhã ser um dia de trabalho normal. RS! Penso comigo mesma se os dias de folga de todas as mães do planeta são assim, ou se sou eu quem não está sabendo administrar direito a minha vida e estou fazendo tudo errado. Porque a impressão que tenho nos meus “dias de folga” e feriados é que, quando trabalho é que descanso! Rs! Agradeço a Deus por Ele ter sentido que Ele estava comigo de uma forma especial, por todo este dia me dando forças, e me ajudando a solucionar problemas ou solucionando-os por mim. Espero sonhar com dias de férias e descanso, num país estrangeiro, ou numa pousada de uma praia qualquer perto da minha casa. Se alguém quiser me dar isso de presente, agradeço!Rs!!